O que te fizeram acreditar sobre ti mesmo… ainda te acompanha?
Talvez não tenhas tido tempo para te perguntares até que ponto um professor pode influenciar o destino de um aluno ou, quanto te influenciou um professor. Não me refiro apenas à transmissão de conhecimento, mas à forma como um simples comentário, um olhar de aprovação ou uma frase dita num momento crucial pode moldar crenças e, por consequência, definir escolhas de vida.
Se há algo que carregamos desde a infância, são as palavras que nos foram ditas. Algumas impulsionaram-nos, fizeram-nos acreditar que éramos capazes, que podíamos conquistar qualquer desafio. Outras, por mais pequenas que tenham parecido no momento, plantaram uma dúvida silenciosa que nos seguiu durante anos.
Thomas Edison, um dos maiores inventores da história, foi expulso da escola primária após o seu professor afirmar que ele era “mentalmente lento” e incapaz de aprender. A sua mãe, ao invés de aceitar essa sentença, disse-lhe que era um génio e que ela própria o ensinaria. Edison cresceu a acreditar na versão da sua mãe, não na do professor, e mudou o mundo. Agora, imagina quantos “Edisons” se perderam pelo caminho porque não tiveram quem lhes dissesse o contrário.
A forma como um professor se dirige a um aluno pode ser a diferença entre ele descobrir ou abdicar do seu próprio potencial. Isso não é mera suposição, mas um facto sustentado por estudos. Albert Bandura, psicólogo e criador da teoria da autoeficácia, demonstrou que a crença que uma pessoa tem sobre as suas capacidades influencia diretamente os seus resultados. Em outras palavras, um aluno que acredita ser bom em determinada matéria terá um desempenho significativamente melhor do que outro com a mesma capacidade, mas que não acredita no seu próprio potencial. A diferença não está no talento, mas na perceção que o aluno tem de si próprio — e essa perceção é muitas vezes moldada dentro da sala de aula.
O efeito Pigmalião, estudado por Rosenthal e Jacobson na década de 60, mostrou que as expectativas dos professores afetam diretamente o desempenho dos alunos. Num estudo, os investigadores disseram a um grupo de professores que alguns alunos tinham um potencial extraordinário para crescer intelectualmente, quando, na realidade, esses alunos tinham sido escolhidos de forma aleatória. O que aconteceu? No final do ano letivo, esses estudantes mostraram melhorias académicas significativas, apenas porque os professores passaram a tratá-los como alunos brilhantes.
Se um professor espera mais de um aluno, dá-lhe mais atenção, incentiva-o mais e, mesmo que sem intenção, transmite-lhe a crença de que ele pode alcançar mais. O aluno, por sua vez, responde a essa perceção e melhora o seu desempenho. Agora, o contrário também é verdadeiro. Quando um professor considera um aluno “problemático”, “desinteressado” ou “mediano”, o tratamento que lhe dá (ainda que subtil) comunica-lhe essa perceção. O aluno absorve essa crença e comporta-se de acordo com ela, entrando num ciclo vicioso que, muitas vezes, o acompanha pela vida fora.
Não precisamos de recuar a experiências de infância para perceber isto. Steve Jobs foi expulso do ensino secundário por ser considerado um aluno desinteressado e sem potencial. Ninguém viu nele o génio criativo que revolucionaria a tecnologia. O sistema não soube lidar com ele e os professores que teve não souberam identificar que o seu “desinteresse” era, na verdade, uma sede por algo mais desafiante.
Os números mostram que este não é um caso isolado. Um estudo da Harvard Graduate School of Education (2021) revelou que os alunos que sentem apoio emocional dos seus professores têm 40% mais probabilidade de desenvolver confiança académica e melhorar o seu desempenho. Por outro lado, uma pesquisa da Fundação Francisco Manuel dos Santos (2020) revelou que 47% dos professores em Portugal se sentem desrespeitados pelos alunos, e um terço dos estudantes acredita que os seus professores não os encorajam o suficiente. O que isto nos diz? Que o impacto da sala de aula vai muito além dos conteúdos curriculares — ele define a autoimagem dos alunos e professores e os influencia diretamente.
Quantos talentos se perdem todos os dias porque alguém lhes disse que não eram suficientemente bons? Quantas crianças crescem com a crença de que são más a matemática, à escrita, ao desporto, apenas porque um dia alguém lhes fez sentir isso? E mais preocupante ainda: quantas crenças limitantes se perpetuam ao longo das gerações porque os próprios professores as carregam desde a infância?
A sala de aula não é apenas um espaço de aprendizagem, é um terreno fértil onde se plantam ideias, convicções e auto perceções que podem durar para sempre. Não há neutralidade nesta equação. Um professor, consciente ou inconscientemente, está sempre a moldar a visão que os alunos têm de si próprios. A questão não é se influenciam ou não, mas sim como escolhem fazê-lo.
Se és professor, talvez este seja o momento de te perguntares: O que estás a reforçar nos teus alunos? Que tipo de crenças estás a ajudá-los a construir? Se pudesses perguntar a cada um deles como se vêem a si mesmos, a resposta seria algo que te orgulharia?
As palavras, os olhares, os incentivos (ou a falta deles) não são esquecidos. Os alunos de hoje serão os adultos de amanhã. Cabe aos professores decidir se vão deixá-los entrar na vida com um impulso de confiança ou com uma colecção de dúvidas sobre si próprios.
Tiveste um professor que te marcou positivamente? Ou pelo contrário, alguém que plantou uma crença que tiveste de ultrapassar ao longo da tua vida?
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Obrigado por estares aí,
Virginia Viñas, Coach de Líderes